Eu tinha uns 8 anos quando te
conheci, você, não me lembro. Sempre soube que você era bem mais velho que eu.
Mas, lembro também que brincávamos juntos, eu, você e todos os outros primos. E
éramos muitos. Você o mais velho, o mais calado, o mais na sua. Isso me chamava
atenção. Eu tinha vontade de puxar papo, mas sei lá, ficava com medo, tímida,
pensava que você poderia me achar uma criança idiota. O tempo passou, quando
você voltou, já éramos um pouco crescidinhos né? Você continuava sério, calado
e tímido. Eu não era mais criança, me tornei uma tagarela, mas mesmo assim
tinha vergonha de ir falar com você. Saímos todos juntos para a tradicional
festa de congado que todo ano tem na cidade. E, você se aproximou de mim pra
conversar, tremi toda. Mas, fingi que estava tudo bem. Afinal era a primeira
vez que iríamos conversar sozinhos, porque o assunto sempre fluía, mas todos
falando ao mesmo tempo. Acho que você já havia falado algo com os meninos e
quando você se aproximou de mim todos saíram de perto, cada um procurou o seu
caminho. Eu sempre soube da paixão que a Júlia tinha por você, a família toda
sabia e davam a maior força, apesar de ser muito falante eu nunca falava dos
meus sentimentos pra ninguém, e sabia que a sua aproximação faria com que toda
a família me julgasse como uma vilã. Mas, não estava me importando, afinal,
você sempre deixou claro que jamais teria algo com ela. Apesar de nunca termos
conversado sozinhos, como naquele momento aconteceri, sempre nos comunicamos por
olhares. Sempre tivemos as mesmas opiniões, os mesmo gostoso musicais, as mesmas
crenças, até mesmo nas brincadeiras tínhamos as mesmas ideias. Você chegou
tímido e puxou papo, não me lembro direito sobre o que era, mas sei que
respondi e puxei outro assunto e papo rendeu a noite toda, aliás, até a Júlia
chegar. Porque aí você era só dela, afinal ela esperava o ano todo pelo momento
da sua chegada. Naquela época você vinha pelos menos duas vezes por ano, então
ela se preparava, comprava roupas novas, arrumava o cabelo, resumindo fazia de
tudo pra aparecer pra você e pra ser o centro das atenções da família. Acho que
naquela época a família faltava te casar com ela. Os shows naquela noite não
estavam legais e resolvi vir embora sem falar nada com ninguém, afinal era
melhor eu vir sozinha, caminhar me faria pensar melhor sobre aquele sentimento
guardado a sete chaves por tanto tempo, afinal nunca me envolvia com nenhum outro
garoto por você, esperando você vir àquela única vez por ano, mesmo que fosse
pra sentir só o seu cheiro de longe. Sai sem que ninguém percebesse, afinal era
até difícil perceber de tanta atenção que a Júlia chamava. Mas, você percebeu
que eu fui embora e, não sei como, conseguiu sair sem que ela percebesse. Me
gritou, olhei pra trás e vi que você vinha correndo e quando chegou perto já
não falou mais nada. Só me beijou, e no final do beijo disse: “Eu esperava por
isso faz muito tempo”. Fomos embora, ele me deixou em casa e foi pra casa da
tia, onde ficava todas às vezes. No domingo de manhã me mandou uma sms dizendo
que não esperava a hora de me ver. Respondi o mesmo. O tradicional almoço
acontecia na casa da tia, onde ele ficava com o restante da família, era sempre
assim todos os domingos que os familiares de Florianópolis vinham. Reunia a família
toda lá. Cheguei você estava sentado na varanda sozinho, mas eu não podia ir
lá, eu sabia que aquilo ia dar em briga, afinal, para a família você era da
Júlia. Mas, de cara percebi que o assunto era que você tinha sumido na noite
anterior. Alívio me deu foi quando percebi que ninguém sentiu minha falta, acho
que os meninos também não haviam falado nada, afinal eles sempre acharam a
Júlia um pouco exagerada e não era muito a favor da história toda. Quando você
percebeu que eu havia chegado foi até onde eu estava e me levou pra varanda,
mesmo sabendo o que podia acontecer. Mas, eu gostei daquilo. E eu fui, sem me
importar com o que poderia acontecer. Conversamos por muito tempo, sobre tudo,
filmes, livros, bandas legais, até que a Júlia chegou e perguntou com uma cara
do tipo “solta o que não te pertence”o que estava acontecendo, respondi
naturalmente: “Estamos conversando, algum problema?”. E ela só disse que
precisava conversar com você sozinha. Saí pra evitar maiores problemas. Até hoje
não sei o que aconteceu, nunca te perguntei, mas daquele dia em diante ela nunca
mais falou seu nome. Ficamos juntos nos dias em que você estava aqui em Minas,
sem que ninguém desconfiasse. Você foi embora. Perdemos o contato por um bom
tempo, você namorou, eu também. Você voltou várias vezes, mas nunca mais
aconteceu nada além de muitos papos divertidos. Sei o que você sente, e sei
mais ainda sobre o meu sentimento. Sei que o único motivo de não estarmos
juntos é a distancia, mas, quem sabe ainda o destino nos reservará alguma
coisa. Sobre nós hoje? Conversamos todos os dias, mesmo que seja só um bom dia.
É estranho não falar com você, é mais estranho guardar um sentimento assim por
tanto tempo, mesmo com uma distancia superior a 900 Km. E foi aí que entendi,
que o amor que é verdadeiro, ele permanece, independente da distância ou do
tempo. Que o amor verdadeiro é pra sempre.
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