por Ruleandson do Carmo
Digite aqui uma indireta para alguém.
Poderia ser a frase de abertura de qualquer atual site de redes
sociais. Mas mais do que isso poderia ser a frase que a gente anda
colocando como a principal no manual de instruções do que devemos
estampar no coração da gente. Estamos lotando nossas falas, textos,
fotos e pensamentos de indiretas. É como se a nossa vida virasse uma
metáfora para o que sentimentos e por medo e covardia a gente calasse a
verdade. Se o amor hoje em dia pudesse ser classificado em uma Era,
seria a Era da Indireta. Talvez a Era da Paranóia (o que vão pensar do
que eu falar?/será que falaram isso para mim?). É um tempo de amores que
terminam antes de começar, porque o outro não nos dá a chance de
conhecer quem realmente somos e se o que ele acha que somos não vale a
pena, ele acha que não vai dar certo. E, sem conhecer, a gente segue
achando sem nunca encontrar. Não adianta falar para o mundo inteiro e
esquecer de dizer a quem de fato precisa. Não adianta achar que o outro
sabe do que você fala, você não pode oferecer charadas ou adivinhações
ao invés de amor e confiança.
Você não tem coragem de dizer a alguém que está apaixonado, pois tem
medo de assustar. Não tem problema, algum trecho de música, filme,
seriado, novela, livro, poema ou frase de pára-choque de caminhão pode
ser publicada na Internet e, pronto, sua paixão está declarada. A
saudade aperta e tudo perde um pouco a graça sem alguém ao seu lado. Mas
dizer que sente falta pode soar desesperado, imaturo ou humilhante.
Então, poucos dizem e muitos compartilham alguma foto em preto e branco
e… concluído, já disse ao mundo que está tudo cinza, cinza de saudade.
Você erra e para não pedir perdão usa um contato mantido sem qualquer
razão como indireta para dizer “me desculpa?”. Você não tem a
honestidade suficiente de dizer a alguém que não gostou do físico dela
quando a conheceu pessoalmente ou que por qualquer outro motivo não está
mais a fim. Ao invés de dizer claramente “não” você usa seu silêncio
como indireta. Ou você inventa alguma desculpa, tudo para não assumir
que é apenas covarde.
Eu sei, a gente usa indireta para ver se a vida endireita e por
mágica fica como a gente quer, a gente usa desculpas para tentar não
magoar alguém e ter depois que de fato se desculpar pela dor causada. Eu
sei, mas não basta, não basta porque o outro precisa entender. Você
pode duvidar, mas distância nem sempre é a indireta perfeita para dizer
que não está mais a fim ou para expressar que você foi magoado, da mesma
forma estar sempre presente e disposto não é a indireta certeira para
afirmar que você ama alguém. Isso tudo é só ter medo e deixar de dizer, é
fugir, escolher ter e oferecer dúvidas. E criar um novo problema nunca
foi a melhor solução.
No amor, pode não haver tempo. Pode não haver tempo não porque você
vai morrer amanhã, mas porque alguém que você ama pode acabar desistindo
de viver hoje ao seu lado. Pode não ter mais perdão para suas
desculpas, pode não ter mais como endireitar o que você perdeu por tanta
indireta. Amor não pode ser algo que se passa somente dentro da sua
cabeça e que somente você vai entender. Amor precisa sim ser dito, ser
claro ao ponto de quase ser clichê. Eu disse quase. Às vezes as pessoas
não estão prontas para ouvir a verdade ou as verdades do que sentimos,
mas ainda assim diga e, se preciso, grite.
Digite aqui o você de fato sente por mim, para abrir a porta e poder ficar.
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