Meu amor não aprendeu a voar


por Bruna Vieria
 
Chegou a hora de admitir algumas coisas. Não adianta mais adiar a ordem dessas palavras e fingir que elas podem continuar aqui dentro. O tempo não espera tudo ficar bem. Então, enquanto ainda somos alguém, quero te dizer algumas coisas.

Noite passada me lembrei da nossa primeira vez juntos de verdade. Eramos tão inocentes. Você me beijou e eu não sabia o que fazer com a língua, com os braços, com a alma. Eu queria gritar, mas antes disso você me abraçou e disse baixinho que tudo ficaria bem. Consegue se lembrar? Tínhamos medo que alguém descobrisse e julgasse. Era assustador pisar nas nuvens e causar tempestades. Mas, aos poucos, você me mostrou o quão segura eu poderia estar. Foi aí que me senti pronta para apagar todas as minhas lembranças solitárias. Me reinventar.

Enfrentei o passado e me desfiz de tudo aquilo que já não fazia sentido. Lembra o quanto foi difícil admitir que você estava certo? Novos amigos, novos horizontes e novos desafios. Sorri, te dei a mão e deixei a vida mostrar quem eu deveria ser daquele momento em diante. Ela mostrou deixando uma caixinha azul com manchas brancas na minha porta. Tivemos medo de abrir. Mas se ela um dia me trouxe você, porque não confiar de novo?

Dentro estavam todos os meus novos sonhos. Tão maravilhosos ao ponto de achar que foi um engano, uma troca de endereços. Olhei três vezes o destinatário e lá estava meu nome. Junto com o seu sorriso escorreu uma lágrima. Para realizá-los, estava na folha amassada que encontramos lá no fundo – eu nunca lembrava de pegá-las, eu teria que aprender a voar.

Isso seria o nosso fim. E foi. Agora, o que mais posso dizer? O amor quebrou todas as minhas bússolas mas eu ainda preciso partir. Então, responda logo por favor, quando você disse que tudo ficaria bem, era sério?

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